terça-feira, 16 de março de 2010

VIII - PENSO, LOGO EXISTO

Este é o famoso “cogito”. E é muito mais interessante do que pode parecer à primeira vista. Descartes inaugurou o humanismo moderno com esta sentença, ou seja, o princípio da filosofia passa a ser o homem. Descartes inventou este princípio antes que Rosseau e Kant o tenham explicitado.

“Discurso do Método” (1637) e “Meditações Metafísicas” (1641) foram as obras em que ele expôs sua ficção filosófica, onde tudo se questiona, até a existência de objetos concretos exteriores a ele, aventando a hipótese de estar enganado, por exemplo, quanto a estar sentado numa cadeira escrevendo à mesa. Descartes adota uma postura de ceticismo total em que duvida de tudo.

Exceto que, afinal, existe uma certeza que ainda resiste. Se penso, ou mesmo se duvido, devo ser algo que existe. Mesmo que todos os pensamentos estejam errados, ao menos um está certo, pois até para delirar é necessário existir. Penso, logo existo.

Decorreram daí três idéias fundamentais que ocorreram a primeira vez na história do pensamento e que inaugura a filosófica moderna.

Primeira, o critério subjetivo da verdade. É verdade aquilo que o sujeito tem certeza, acima do que está objetivamente demonstrado.

Segunda, “tabula rasa” das idéias do passado. O sujeito é soberano para reformular todas as idéias e rejeitar as regras transmitidas pelos antigos. “Nossa história não é nosso código”, nada nos obriga a respeitar as tradições. Podemos fazer tudo diferente. Para Descartes, não convém dar crédito “se não àquilo de que podemos estar absolutamente certos por nós mesmos”.

Terceira, “é preciso rejeitar todos os argumentos de autoridade”, ou seja, as regras impostas de fora como verdades absolutas por instituições dotadas de poderes que não se pode discutir.

Mas como fica a idéia de salvação numa filosofia que tem o homem como centro, uma vez que este é sabidamente mortal.

A melhor resposta encontrada à época estava nas ideologias e na ciência. Ambos pregavam o ateísmo radical e se agarravam a ideais capazes de dar sentido à vida ou justificar que se morresse por eles.

Os ideais eram sagrados e imortais, daí a velha máxima “morre o homem, mas seus ideais nunca morrem”, o que dá bem a idéia de salvação. Através da ciência, sempre que algum cientista fazia uma descoberta ou inventava um aparelho, sempre que um explorador chegava a novas terras, inscreviam seu nome na eternidade da grande história e assim justificavam toda a existência.

É óbvio que todos esses “ismos” (nacionalismo, patriotismo, cientificismo...) não satisfazem a questão da salvação, pois ainda que os ideais sejam maiores que o próprio indivíduo este sempre perece. Ainda que a humanidade como um todo seja maior que o próprio indivíduo, ela não transcende a ele.

Mas foi o melhor que se pôde fazer à época, sem Deus e sem o cosmos.

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