sexta-feira, 5 de março de 2010

V - ESTOICISMO – GRECIA ANTIGA – Um exemplo de filosofia antiga e a fórmula grega para se vencer a morte

Denomina-se “Milagre Grego” o nascimento da filosofia, no século VI a.C. A prática democrática, o pensamento livre, o debate e a argumentação exercidos pelos gregos, possibilitaram pela primeira vez se questionar a salvação prometida pela religião.

Zenão de Cítio foi pai e fundador da escola estóica. Cleanto e Crisipo, seus seguidores, foram outros expoentes do estoicismo antigo. Sêneca foi expoente do estoicismo romano, professor e ministro de Nero, de Epicteto e preceptor de Marco Aurélio.

A teoria no estoicismo é conhecer o mundo. Apresenta-se a idéia de cosmos, o todo do universo como se fosse um ser organizado e animado, como um organismo vivo. O cosmos é harmônico, justo e belo. Tudo é perfeito. Ainda que aconteçam catástrofes estas são passageiras.

O cosmos é o que chamam de divino, e não um ser exterior e superior a ele que o teria criado, como Deus para os judeus e cristãos. Esse divino não tem nada de um ser pessoal, mas se confunde com a ordem do mundo e deve ser contemplado através do estudo das ciências especificas que o permitem conhecer: física, matemática, biologia, etc.

O cosmos é divino, belo e racional. Ordenado e lógico. Divino porque não foi criado pelo homem. O cosmos é harmonioso. Portanto justo e bom. Será então modelo de conduta para os homens, que são parte desse cosmos.

A natureza faz justiça a cada um dotando-o do necessário para viver. Daí vem a fórmula do direito romano, “dar a cada um o que e seu”. A finalidade da vida humana é encontrar seu lugar na ordem cósmica, que é harmoniosa, justa e boa.

O cosmos dos estóicos é transcendente ao homem, porque é superior e exterior a ele, mas imanente ao mundo porque se situa em relação apenas a ele.

Ética é a pratica da teoria, que para os estóicos é ajustar-se aos cosmos, achar seu lugar na harmonia e justeza do cosmos. Esta ética vai influenciar a ciência política e jurídica e é para isto que se desenvolve a teoria, ou seja, o conhecimento do mundo. Em suma, a natureza é em si boa e deve ordenar o comportamento dos homens. O que estava conforme a ordem cósmica era bom e o que o contrariava, era mau. Por isso conhecer o mundo através das ciências para entendê-lo e agir conforme ele, teoria e ética. Só assim se poderia achar o divino, lugar que a cada um cabia no todo. Eis a sabedoria.

A imortalidade se atinge pela procriação, através da descendência, ou por atos heróicos ou gloriosos. Ambos sobrevivem ao homem, mas não são de fato uma vitória sobre a morte. São apenas consolos.

Onde estaria então a salvação proposta pela filosofia?

Para os estóicos, o justo exercício do pensamento e da ação (teoria e ética), a morte é compreendida como uma passagem de um estado a outro na perfeição divina do cosmos, do qual fazemos parte. Eis a salvação, entender-se como uma parte do todo, ocupar seu lugar devido neste todo, através de atos conforme a ordem natural. A morte então não é um aniquilamento, mas um modo de ser diferente, imanente ao todo, que é justo e harmonioso. Atingida tal sabedoria teórica e pratica, a morte deixa de significar o fim e deixa de ser temida. Se o universo é eterno e somos um fragmento dele, também somos eternos.

Mas para tanto é preciso obter a sabedoria através da teoria e ética estóicas, ou seja, vivê-la na pratica. Quatro exercícios práticos de sabedoria foram formulados pelos estóicos:

1. Abandonar a nostalgia (passado) e a esperança (futuro), ligar-se ao presente. “Enquanto se espera viver, a vida passa” (Sêneca). A vida boa é aquela sem esperanças e sem temores, pois a vida reconciliada com o que é, a existência que aceita o mundo tal como é. Essa reconciliação só é possível com a certeza de que o mundo (cosmos) é harmonioso e bom.
2. Aceitar os fatos como são.
3. Não se apegar. “Lembra-te que amas um mortal” (Epicteto). Tudo passa, não compreender isso é preparar para si os terríveis tormentos da nostalgia e da esperança.
4. Realizar cada ação como se fosse a ultima.

Há momentos raros em que nos sentimos reconciliados com o mundo. Nesses momentos de harmonia com o cosmos o tempo não existe. Vencemos o medo da finitude. Fazer a vida toda parecer assim. Eis o ideal da sabedoria. E é conquistada a salvação pela ausência do medo da morte. Então quando o inevitável chegar eu estarei pronto porque me foi dado viver o presente.

Esta sabedoria vigorou até Nietzsche.

O problema da salvação proposta pelo estoicismo é que passamos de um estado pessoal e consciente para um estado impessoal e inconsciente. Fragmentos do cosmos, perdemos nossa individualidade consciente. O estoicismo não sacia nosso desejo, acima de tudo, de reencontrar quem amamos.

O cristianismo não regateia nesta promessa, com isso suplanta a filosofia e domina o mundo ocidental por quase 15 séculos.

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